Texto por Tainá Silva
Algumas pessoas me perguntam como foi que escolhi Arquitetura,
qual a diferença entre engenharia ou quais devem ser as qualidades desse
estudante. Perguntam se é puxado, se vale a pena, se o mercado está
necessitando… Para essas perguntinhas pertinentes e que fazem a gente cansar de
responder, resolvi fazer este post.
Antes de eu começar a estudar Arquitetura, vivia pesquisando na
internet sobre coisas que me interessavam. Na realidade nunca havia admitido
que queria fazer Arquitetura. Eu havia feito o técnico em Edificações e não
tinha gostado… era muita matemática, uma coisa de outro mundo e que não me
agradava. Imaginava que Arquitetura seria a mesma coisa maçante e chata.
Quase nada me agrada e eu nunca consigo gostar de algo
específico. Quando me perguntavam qual a matéria que eu mais gostava no
colegial eu nunca sabia responder… todas me atraiam e traiam!
Notando que eu não conseguia me apaixonar por nada em
específico, fui pesquisar graduações amplas, que englobavam várias matérias
diferentes e que, de alguma forma, nunca me faria enjoar. Achei a Arquitetura.
Pelo fato de não ter gostado do técnico em Edificações, como já
mencionei, eu iniciei, contra gosto, a graduação em Arquitetura.
Nos dois primeiros meses, confesso, tive muita vontade de
largar. Eu não conseguia gostar, era tudo abstrato de mais para mim, novo de
mais, puxado de mais. Mas foi no 2°bimestre, com o primeiro projeto, que eu me
convenci que não poderia ter escolhido curso melhor.
A graduação engloba quase todas as matérias que temos no
colegial: história, geografia, geopolítica, sociologia, arte, matemática,
física e botânica (no paisagismo). Para mim que não sabia nem gostar nem odiar
as matérias foi um prato cheio.
O curso é puxado e isso, acredito eu, seja pelo fato dele ter
essa grade tão flexível. Para ser aluno e futuro bom profissional é preciso ser
muito curioso; ter muito jogo de cintura; ter noção espacial; senso crítico
(tem que ser chato mesmo); ter espírito altruísta (não adianta ser Arquiteto e
pouco se importar com os problemas sociais); ser mente aberta, estar aberto às
novidades; tem que ser sociável e como já dizia Sir.Nikolaus Pevsner “Um
Arquiteto não pode existir em oposição à sociedade”.
Quem não sabe desenhar, só sabe fazer aqueles homenzinhos
palito, não chore: noções de desenho são ensinadas no curso. O importante é ter
ideias! Ser extra criativo e nunca se prender numa só forma como a do
pseudo-modernismo atual, por exemplo, em que, com medo de errar o Arquiteto
esquece de imprimir a identidade na obra e sai sempre aquela caixa branca que
ele tem a coragem de chamar de casa… E a matemática… ah, a matemática… ela,
apesar de ser ensinada no curso (assim como as noções básicas de desenho) vai
te fazer chorar muito. Essa é a mais pura verdade… ossos do ofício, fazer o
que?
O que você tem a ganhar estudando Arquitetura? Bem,
aparentemente um bico-de-papagaio, dores no ombro e dentes amarelados de tanto
tomar café. Aparentemente, eu disse.
As coisas, e isso vale para qualquer curso, quando feitas com
amor e com vontade deixam de ser custosas. O que você vai receber em troca por
estar fazendo Arquitetura é muito particular. A felicidade boba de ver seu
rabisco projetado no AutoCad e exposto na feira de profissões, todo o
conhecimento que você adquire e quando você faz uso dele em um projeto…Seus
pensamentos tomando forma, as soluções que você imagina para a sociedade…essas
coisas são singulares. Não me venha perguntar de mercado de trabalho! Quem
esperava a crise de 69 e a crise que acabamos de deixar? O mundo muda muito
rápido, olhar para o mercado para escolher o curso é algo totalmente mesquinho
e pequeno. Além do mais, olhar para o mercado para escolher o curso é algo
completamente errado: se fazer o que a gente gosta já é difícil, imagina fazer
aquilo que não gostamos?!
Talvez a pergunta mais recorrente quanto à Arquitetura é qual a
diferença com o curso de Engenharia ou qual a semelhança entre Design de
Interiores.
Para ser direta: um bom Designer de Interiores estudou primeiro
Arquitetura, depois de especializou. Partindo do princípio que o Designer de
Interiores é diferente de Decorador: o Designer pode intervir no projeto e tem
como principal objetivo atender as necessidades dos seus clientes com um jogo
de luz, cores, buscando a melhor ventilação, o melhor layout, o maior conforto
dentro da funcionalidade do ambiente. O Decorador fez um curso rápido e
geralmente só é habilitado a escolher objetos para compor o ambiente, a etapa
final do projeto de interiores.
A diferença entre Arquitetura e Engenharia já é um pouco mais
complexa. Quem opta por um curso ou pelo outro, fique claro: opta por cursos
diferentes! A Engenharia tem como principal objetivo a execução do projeto. O
profissional dessa área participa dos cálculos estruturais, onde é o melhor
lugar para se por uma viga, se o segundo piso não vai cair, qual a quantia de
ferro e concreto para fazer a cúpula, qual o grau da inclinação… E participa
ativamente de grandes obras: edifícios, pontes e outras construções é ele quem
deve tomar conta e se responsabilizar por grande parte dos problemas.
Na Arquitetura, além do profissional estar envolvido com o
projeto em si, ele se preocupa com os mínimos detalhes e com todo o impacto
social da obra.
Tomemos como exemplo a execução de um shopping center. O
Arquiteto faz todo um estudo sobre qual a melhor posição das janelas e qual a
melhor disposição dos stands. Se preocupa com a acessibilidade, refrigeração,
insolação, integração e, é claro, com a estética. O Engenheiro participa do
projeto fazendo os cálculos estruturais (o Arquiteto é habilitado a fazer os
cálculos, mas a grande maioria contrata Engenheiros para tal), qual a melhor sustentação
para os pisos, a quantia de concreto, qual o melhor material… e, além dessa
participação importante, ele é quem vai comandar a obra. O Arquiteto, diferente
do Engenheiro, sai um pouco do projeto: ele amplia a visão para o entorno da
obra, no caso, o shopping. Esse shopping terá qual público alvo? Pessoas da
classe A, B, C? Onde esse shopping é localizado, eu faço um estacionamento de
mil vagas ou ele é perto do metrô e isso induz as pessoas irem à pé? Esses
detalhes são pensados pelo profissional de Arquitetura. Um bom Arquiteto jamais
faria um shopping center luxuoso no meio de um bairro desfavorecido ou
vice-versa. Essa preocupação com o espaço social é que engrandece ainda mais os
profissionais de Arquitetura. Sem contar o plano sustentável que já virou
rotina em todo projeto.
Espero que este post tenha esclarecido algumas dúvidas!
Lembrando que a melhor forma de escolher qual curso fazer é descobrir do que
você realmente gosta e o que quer fazer grande parte da sua vida. Conversar ou
até mesmo visitar profissionais já credenciados também é uma ótima forma de
tirar essa dúvida tão cruel!